quarta-feira, 16 de maio de 2012

The New York Times: Para alguns, apoio ao casamento gay é postura pessoal e não política

Para alguns, apoio ao casamento gay é postura pessoal e não política

The New York TimesHelene Cooper e Jeremy W. Peters
Em Washington (EUA)

  • Olivier Hoslet/Efe

Alguns de seus melhores amigos revelaram que eram gays.

Ou uma filha, no caso de Dick Cheney. Ou um amigo íntimo, no caso de Jon M. Huntsman Jr. Ou alguém que estava sentado ao seu lado, no caso do legislador de Maryland Wade Kach.

O fato de o presidente Barack Obama abraçar o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo na semana passada desencadeou instantaneamente especulações sobre as possíveis implicações políticas disso, mas deixou de lado um ponto mais sutil. Como tantos outros norte-americanos nos últimos anos, os políticos estão se deixando influenciar menos por questões partidárias, religiosas ou raciais em relação ao apoio a maiores proteções legais para os gays, dizem tanto liberais quanto conservadores.

Em vez disso, trata-se de uma questão mais pessoal.

“Se você não conhece ninguém que é gay, então leva uma vida alienada”, disse Theodore Olson, ex-procurador geral do presidente George W. Bush que apoia o casamento gay. Mas, acrescentou ele, quando “você descobre que a Maria do outro lado da rua é lésbica e está com a Sandra e pensa em como seria se elas não pudessem estar juntas”, daí você muda de ideia.

Durante o movimento pelos direitos civis, muitos brancos do norte --incluindo alguns que nunca tinham interagido com pessoas negras-- juntaram-se aos afro-americanos para lutar pelos princípios dos direitos iguais, com frequência se opondo aos sulistas brancos que haviam vivido entre os negros a vida toda, mas não viam nada de errado em ter leis diferentes. Os princípios pareciam vir antes da experiência pessoal em muitos casos.

Com o movimento pelos direitos homossexuais, parece que acontece o oposto. Embora existam muitas pessoas que apoiem os direitos dos homossexuais porque estão alinhados com suas visões pessoais ou políticas, para muitas outras sua abordagem do tema é experiencial e se resume a uma questão simples: conhecer um casal assumidamente homossexual. Na verdade, pode parecer que existem dois Estados Unidos no que se refere aos direitos gays: um no qual os casais de pessoas do mesmo sexo interagem normalmente com os heterossexuais, ajudando a atenuar as impressões sobre a homossexualidade, e outro no qual ser gay ou lésbica continua sendo algo que não é muito discutido.

Veja Maureen Walsh, por exemplo. À noite, Walsh administra o Onion World, um restaurante de salsichas em Walla Walla, Washington, com sua família. Mas, de dia, ela é uma representante republicana de um distrito da parte conservadora do sudeste do Estado. Ela disse que não tinha problemas com uniões domésticas para casais do mesmo sexo. Mas, no que dizia respeito ao casamento, ela era contra. Então ela começou a pensar sobre sua filha de 26 anos, que recentemente saiu do armário.

“De uma forma egoísta eu pensei que isso era uma afronta para minha filha, que merece uma coisa que todo mundo tem nesse país”, disse Walsh numa entrevista, lembrando-se de que sua decisão de votar a favor da lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo, aprovada em Washington em fevereiro, foi mais um impulso materno do que fruto de um raciocínio político ou ideológico. “Foi egoísmo, mas foi motivado por amor”, disse ela. “E eu prefiro errar do lado do amor, você não?”

Situação parecida com a de Terre Marshall, uma delegada republicana do Havaí e palestrante profissional que frequentava uma igreja predominantemente negra em Boulder, Colorado, que defendia --como ela também, na época-- a visão tradicional do casamento entre homem e mulher. Cerca de uma década atrás, Marshall recebeu uma notícia bombástica: um telefonema choroso de sua melhor amiga e sócia, que revelou que era lésbica e que havia terminado o relacionamento com a mulher que Marshall acreditava ser apenas uma colega de casa, e não sua namorada. “Como eu pude não ter percebido algo tão importante em relação à minha melhor amiga?”, disse Marshall.
Na mesma hora, disse ela, qualquer oposição que tinha contra os direitos dos homossexuais se dissolveu. “Eu percebi que não dava a mínima importância para sua sexualidade. O que importava era a nossa amizade.” Não levou muito tempo para Marshall passar a apoiar o casamento gay.

Mesmo alguns que já consideraram a homossexualidade amoral se disseram surpresos ao descobrir quão rápido suas percepções mudaram depois que foram obrigados a colocar um rosto numa situação que antes consideravam apenas no sentido abstrato.

Kach, o delegado estadual republicano de Maryland, deu um voto crucial para a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Estado no início deste ano. Numa entrevista, Kach lembrou que há não muito tempo atrás ficou enraivecido quando o jornal local colocou uma foto de um casal gay com um filho na primeira página para uma matéria sobre o dia dos pais. “Eu fiquei absolutamente horrorizado”, disse ele. “Não pensei neles como um casal. Pensei neles como pessoas que estavam fazendo... a atividade homossexual”, disse ele com uma pausa.

Então ele foi a uma audiência legislativa sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo em fevereiro. Como chegou tarde, teve de se sentar ao lado da mesa das testemunhas, onde se viu lado a lado com os casais gays que estavam testemunhando. Um era um pastor cujo parceiro estava doente de câncer, disse Kach. “Estava sentado lá observando o homem doente afagar as costas do que estava testemunhando”, disse ele. “Eu só vi o amor e a devoção que eles tinham um pelo outro.”

Huntsman, ex-candidato presidencial republicano e governador de Utah, disse que sua posição de apoiar as uniões civis se fortaleceu em 2007 depois que um parceiro gay de um amigo próximo foi proibido de entrar na sala de emergência em que o filho do amigo morria depois de um acidente numa gangorra. “Você não pode passar por algo assim sem dizer: 'onde está a justiça'?” disse Huntsman, que é mórmom, uma religião que condena fortemente a homossexualidade.

Mitt Romeny, que também é mórmom, não apoia as uniões civis ou o casamento homossexual. No Capitólio, a representante Nan Hayworth, republicana de Nova York, que entrou no congresso numa onda de apoio ao Tea Party, tornou-se uma entre um pequeno punhado de republicanos que se juntaram ao comitê de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros no congresso. Seu filho é gay. E a representante Ileana Ros-Lehtinen, republicana conservadora que representa muitos eleitores gays num distrito que vai de Miami até Flórida Keys, tornou-se a primeira co-autora da lei para revogar o Ato de Defesa do Casamento.

O juiz Lewis Powell, do Supremo Tribunal dos EUA, foi talvez uma das figuras públicas mais famosas a mudar de ideia em relação aos direitos dos homossexuais. Ele votou em 1986 para sustentar uma lei que considerava a sodomia um crime, dizendo a seu assistente legal na época: 'acho que nunca conheci um homossexual'. O funcionário, que era gay, respondeu: “Com certeza você já conheceu, só não sabe quem eles são.”

Tempos depois Powell disse que se arrependeu de seu voto.

Tradutor: Eloise De Vylder

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